Alessandra Leão

Em 2021, Alessandra Leão lançou seu último disco, ACESA, produzido e arranjado por ela e pelo produtor musical Caê Rolfsen, com quem também lançou “Macumbas e Catimbós” , indicado ao Grammy Latino 2019. O disco, atravessado por vivências e experimentações da artista, em especial dos últimos cinco anos, exala pulsões de vida que passam por festas, espiritualidade e transmutações pessoais. Suas composições traduzem o que a compositora entende por encontro e movimento; ela se perde para encontrar o desconhecido em si e no outro. Toma como principal inspiração o coco e a ciranda (ritmos tradicionais de Pernambuco e Paraíba) de onde parte de uma formação percussiva, com uma cama de sintetizadores programações, utilizando contraponto como escolha estética, pensadas a partir da linguagem de sopros tocados nas cirandas e em maracatu de baque solto. Essa formação e referências trazem uma sonoridade única ao disco. ACESA é escrito em caixa alta. Como quem grita. Como quem urge. Música de deriva, que propõe se perder para encontrar o que não se sabia. Reaprender novos caminhos. Pedrinha miudinha que somos nós. Festa. Transe. Encontro. Despedida. Distanciamento. Abraço demorado. Aqui, agora. Desde antes e adiante. O disco inicia com uma residência artística, que deu origem a web série de mesmo nome, dirigida por Alessandra, Luan Cardoso, Vânia Medeiros e Caçapa. São 14 encontros-deriva entre Pernambuco, Paraíba e São Paulo com: Odete de Pilar; Mestra Ana do Coco; Nilton Jr; Guitinho da Xambá; Pai Ivo de Oxum; Mestre Galo Preto; Pai Cacau; Paulinho Carrapeta; Mestre Barachinha; Aurinha do Coco, Beth de Oxum e Mãe Marilda Soliano (disponíveis na página do youtube da artista). O disco ACESA é uma soma de caminhos e de gentes. Conta com as presenças luminosas de Lia de Itamaracá, Severina e Dulce Baracho, Mestra Odete de Pilar, Ana do Coco, da Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré, Mestre Nico, Abuhl Junior, Bruno Prado, Guilherme Kastrup, Maurício Badé, Mestre Barachinha, Mestra Nice Teles, Siba, Caçapa, Helder Vasconcelos, Nilton Junior, Juçara Marçal, Laura Tamiana e Renata Rosa. Para o show, a direção de arte do show é de Juliana Godoy (que também assina a co-direção e roteiro com Alessandra), a cenografia e design é de Vânia Medeiros e a direção musical de Alessandra junto com Kastrup, que também toca bateria ao lado de Tamires Silveira no synth e Marcelo Cabral no synth bass. ACESA, álbum e show, é um convite a um estado de presença. A música é o fio condutor. A deriva refletida em suas sonoridades revela que não há fronteiras entre poesia, música e dança; entre o que é da fé e o que é da festa; entre o corpo e a cidade. A partir da pedra miudinha desse chão, encontram-se novas cartografias de nós mesmos, enquanto caminhamos. Novos mapas e caminhos. Cada um de nós é como folha, sons, cheiros. Estado de atenção e escuta. O mundo noutro tempo. Deriva em caminhadas, conversas, ideias, músicas, pensamentos, transe. Estamos em trânsito, transitórios, impermanentes. Ouvir e (re)descobrir potências e profundidades, outras camadas, o que sustenta, o que transborda de cada um, no outro e em si mesmo. A rua. A encruzilhada como possibilidade de caminhos. Cada indivíduo como um mundo de possibilidades. A fagulha necessária para encontrar e reencontrar sempre. Se perder para poder encontrar o que não se sabia em si e no outro. O movimento. É dele que vem a faísca para acender o fogo.